sábado, 17 de novembro de 2012

A Procuradoria da República e seu ócio criativo


nov 15, 2012 by Editor    112 Comentários    Postado em: Artigos e Análises
Por Pedro Jácome
para o Acerto de Contas

Já faz algum tempo que o Ministério Público Federal virou uma espécie de “White Knight” do ócio paraneico brasileiro. Ou seja, se você se indignou mortalmente ao ver a descrição de “cigano” no Houaiss…. pode ficar tranqüilo. Antes que você proteste criando um evento no facebook, o estagiário do MP já estará a poucos passos do setor de protocolo do juízo competente.
Isso não quer dizer, claro, que o Parquet vá cuidar de todos os problemas do mundo, isso seria exigir muito. Se você estiver preocupado com, sei lá, o seu dinheiro sendo desviado por milhares de gestores públicos corruptos ou com a quantidade estupidificante de drogas e armas cruzando ilegalmente a nossa fronteira, é melhor apelar pro Chapolin Colorado ou se confortar botando a culpa na Mãe Lucinda, porque o Ministério Público tem objetivos mais excelsos com os quais se preocupar.
A presepada da vez é a ação civil pública para a retirada do termo “Deus seja louvado” das notas de Real. Ora, eu creio, firmemente, que nada relacionado a notas de dinheiro pode tirar o sono de alguém mentalmente são, a não ser, basicamente, a falta delas (angústia que provavelmente não abate o nosso querido Procurador da República, que ganha mais de 22 mil reais por mês).
A premissa de que o Estado é laico e consequentemente não deveria haver referências teístas nos espaços e coisas públicas é válida na exata medida em que é ridiculamente impraticável. Se fosse plausível que referências religiosas (ou teístas) ofendem de maneira significativa os “direitos fundamentais dos brasileiros que não crêem” uma série absurda de coisas teria que mudar no Brasil.
O nome do estado e da cidade de São Paulo (e também o de Santa Catarina, Espírito Santo,São Lourenço da Mata, etc) teriam de ser modificados, o poder público teria de abandonar a manutenção do Cristo Redentor (ou se não, ordenar sua retirada de uma praça pública, pois a vista do Cristo de braços abertos sobre a Guanabara, poderia ofender a vista dos cariocas e turistas não cristãos), teríamos que acabar com o Natal, a Semana Santa, o Carnaval e com a própria preferência constitucional pelo descanso semanal aos domingos (que tem óbvio fundamento religioso)…. enfim, para simplificar, teríamos que reinventar a nação, destroçando suas mais profundas raízes culturais.
Além disso, se os símbolos cristãos ofendem os “não-cristãos”, há de se admitir que os símbolos “não cristãos”, a contrario sensu, ofendem os cristãos…. então, se tirarmos a referência a Deus das notas de Real, também teríamos que substituir Marianne por um símbolo que não remeta à maçonaria (e, aproveitando o ensejo, talvez um menos afrancesado….quem sabe Carmen Miranda ou Dercy Gonçalves?). Do mesmo modo, se quisermos tirar a Cruz do pleno do STF, teremos que realocar também a Têmis que adorna a entrada do Pretório Excelso.
O ponto fundamental, no fim das contas é que essa paranóia laicista é completamente abobalhada, porque ela ignora o fato indiscutível de que a religião é parte fundamental da cultura popular e é impossível defender que um Estado negue a cultura de seu próprio povo.
Ora, os pernambucanos talvez sejam os mais bairristas dos povos brasileiros… agora, imagine se os ateus resolvem tirar a cruz da bandeira pernambucana, sob a alegação de que o Estado é laico e o signo cristão os ofende. Em retaliação, os cristãos pedem que seja retirado o Sol, pois ele remeteria a crença “pagã” em Guaraci ou em Rá (sabe-se lá….), e a bancada evangélica, que, assim como o MPF, não resiste a uma causa inútil, resolve tirar o arco-íris, pois ele seria uma promoção do Movimento Gay… pronto, por causa de meia dúzia de desocupados, a bandeira de Pernambuco agora quer dizer: “Tenho um mergulhador na água, conserve-se afastado e a pouca velocidade.”.
A verdade é que o Brasil é, sim, um país cheio de mazelas, mas, sinceramente,a intolerância religiosa não está nem de longe entre as principais delas (a não ser na agenda esquizofrênica do ócio esquerdista-universitário).
Somente no exato dia em que esse artigo está sendo escrito, somente nas últimas 24 horas, a corrupção tirou do Brasil algo em torno de 150 milhões de reais (segundo pesquisa da FIESP) e 1700 hectares da floresta amazónica desapareceram (de acordo com o INPE).
Enquanto isso, o nosso querido Procurador da República, que ganha mil reais pela jornada de trabalho, está embananado o judiciário e a Procuradoria do BACEN por uma frase de rodapé.
Ai, ai… haja senso prático e respeito pelo dinheiro público.
Deus seja louvado.

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