sexta-feira, 1 de junho de 2012

Para que serve a ADUFEPE?


assembleia-adufepe
Por Heitor Scalambrini Costa

para o Acerto de Contas

Professor do Departamento de Engenharia Elétrica, ex-presidente da ADUFEPE.
Em 26 de março de 1979, portanto há 33 anos, um grupo de professores e professoras da UFPE se reuniu em Assembleia Geral e aprovaram a criação da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (ADUFEPE). Desde sua criação, esteve comprometida na luta por uma Universidade pública, gratuita, laica, democrática, de qualidade; e por um Brasil soberano e socialmente mais justo. Posteriormente em uma Assembleia Extraordinária passou a se constituir em uma seção sindical do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior/ANDES-SN.
O passado da nossa entidade está repleto de exemplos de lutas pela redemocratização do país juntamente com outros setores da sociedade brasileira, e também pela democratização da estrutura universitária cuja reivindicação unificou as forças progressistas dos três segmentos que a compõem (professores, técnico-administrativos e estudantes), contra o entulho autoritário da ditadura. A supressão da democracia foi uma agressão deprimente para o ambiente acadêmico, onde a liberdade do pensar e a pluralidade de idéias e ideais devem sempre prevalecer.
Lamentavelmente na década passada, em pleno inicio do século XXI, a democratização na UFPE não se materializou, pois não se promoveu o que havia prometido a administração Amaro/Gilson, eleita pela comunidade: a descentralização, a transparência e a participação plena da comunidade universitária nas decisões e destinos de nossa Universidade. Infelizmente a defesa da democracia não conseguiu mobilizar todas as tendências políticas representadas no interior da Universidade, em particular a categoria dos docentes representada pela Adufepe, que tem mantido desde então uma ligação umbilical com a administração e com partidos políticos.
Constata-se que as últimas diretorias da entidade aproximaram-se das administrações da Universidade de tal maneira que acabou sendo cooptada. Este fenômeno aconteceu também de maneira ostensiva com as direções dos movimentos sociais e dos sindicatos, em todo o país, logo após a vitória do Partido dos Trabalhadores que assumiu a presidência da Republica em 2003.
O nível de subordinação da direção da Adufepe com relação à Administração Central da UFPE é tal que levou ao abandono reivindicações históricas do movimento docente, como a luta por uma Estatuinte livre, democrática, soberana, autônoma. Hoje se chega ao descalabro de afirmarem alguns agregados e membros da diretoria, que a entidade não tem uma posição sobre a questão da Estatuinte. Assim não se confronta com o atual reitorado que tomou posse em novembro de 2011, e que tem conduzido à mudança dos estatutos de uma maneira totalmente contrária aos anseios da comunidade universitária, de forma restritiva, autoritária e antidemocrática.
O nível de distanciamento em relação os docentes é tão grande que mesmo com o arrocho salarial impetrado pelo governo federal, a direção da Adufepe praticamente omitiu-se na tarefa de mobilização de seus sindicalizados, tendo até desrespeitada as decisões tomadas pela instancia maior da entidade que é a Assembleia Geral. É só lembrar do que ocorreu em agosto do ano passado, onde em uma Assembleia da categoria, majoritariamente os docentes presentes não aceitaram a proposta do governo em conceder pífios 4% de reajuste salarial a partir de 2012. Naquele dia, ocorreu algo nunca visto anteriormente, que foi a indicação dos delegados pela própria diretoria. Seriam estes os representantes, que levariam o posicionamento da Assembleia e da seção sindical a uma reunião do Sindicado Nacional/Andes em Brasília. O que sempre ocorria, já de práxis no movimento docente, era que os representantes/delegados fossem soberanamente escolhidos e referendados pela Assembleia. E isto não aconteceu pela primeira vez. E foram estes mesmos delegados, indicados autoritariamente pela diretoria, e sem passar pelo crivo da Assembleia, que acabaram tomando uma posição desleal, uma traição inadmissível, assinando o acordo que havia sido rechaçado majoritariamente pelos docentes. Sacramentando assim um acordo espúrio com 4% de reajuste.
As diretorias anteriores da ADUFEPE que cumpriram seus mandatos, sempre honraram a tradição de não se subordinarem a partidos políticos e nem a administração central. Isto nunca impediu que membros da diretoria tivessem suas opções partidárias e ideológicas. Todavia o que vivenciamos atualmente é uma clara, vergonhosa e inadmissível atrelamento da Adufepe, a interesses outros que não de seus sindicalizados.
Neste primeiro semestre teremos eleição para a escolha da nova direção da Adufepe, e esperamos que o atual grupo que a dirige seja rechaçado democraticamente, e que a nova direção eleita retome o caminho de sua autonomia. Sem atrelamentos, sem partidarismos, autônoma, lutando pela valorização do docente, pela educação publica, gratuita e de qualidade.

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