domingo, 27 de maio de 2012

Greve das Federais promete ser longa


Pierre Lucena   Postado em: Educação
professores em greve
Desde 2005 a palavra greve não existia nas Universidades Federais. A aparente calmaria se deveu à uma maior disposição do Governo Lula para o diálogo, e também pelo reconhecimento de que era uma das piores carreiras da estrutura federal de Governo.
O Governo Lula tomou a decisão de resolver os problemas salarias de algumas categorias, em especial às atividades-meio, como AGU, CGU, etc., mas deixou de fora quem está na ponta, como os professores e médicos.
Mesmo assim, acordou que seria resolvido em uma fase posterior, mas ainda no seu Governo.
Acordou um reajuste emergencial em 2007, e que em 2010 uma nova carreira seria discutida, já que carreiras semelhantes já teriam sido resolvidas.
Apenas para situar o que aconteceu, vale a pena ver os dois gráfico de um estudo que fiz, mostrando que hoje os professores ganham menos que no ano de 1998, durante o Governo FHC, quando descontada a inflação.
Gráfico 1 – Salário nominal das carreiras, desde 1998.
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Gráfico 2 – Salário real das carreiras com Base 100, descontada a inflação desde 1998.
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Voltando ao ponto, apenas para explicar.
Em 2003, ganhávamos R$ 200,00 a mais que um pesquisador do IPEA com Doutorado (salário inicial). Hoje entramos ganhando menos R$ 5,5 mil do que o pesquisador do IPEA.
Chegou 2010 e Lula desconversou. Jogou o problema para 2011 e o Governo Dilma.
Este, por sua vez, para evitar a greve em 2011, acordou que até março de 2012 equipararia a carreira com o Ministério da Ciência e Tecnologia, e daria um aumento emergencial de 4% também para março, mesmo sabendo que este período de inflação (2 anos) representaria uma perda de aproximadamente 11%.
Houve toda boa vontade dos professores.
Chegou março, nem mesmo o aumento ridículo de 4% saiu. Carreira então, nem pensar. Apenas parcas discussões em reuniões enrolatórias.
Ao ver o sentimento de greve crescer, o Ministro da Educação Aloisio Mercadante tratou de ir atrás de Dilma para editar uma medida provisória para honrar os 4 % que deveria ter sido dado em março, mas aí já era tarde demais.
O sentimento de insatisfação dos professores era muito grande. Diria insustentável.
A
loisio Mercadante, Ministro  da Educação

Claro que nesta hora o raso argumento de que muitos não merecem aumento aparece (já falei disso aqui no Acerto de Contas.). Inclusive alguns nem mereciam estar pela Universidade, mas a decisão sobre isso está no comportamento estratégico a respeito de educação, não apenas no sentimento do que é justo para o professor. Deve-se pensar no que é importante para o país.
É objetivo do Governo jogar a educação pública superior na mesma lata de lixo que jogaram o ensino básico?
É correto ofertar a quem passou 6 anos fazendo mestrado e doutorado salário inferior a um Policial Rodoviário apenas com graduação?
É essa a estratégia de Universidade do Governo Federal?
Se for, apenas se preocupe em discutir com a comunidade e avise que a partir de agora é cada um por si. Decida que a Dedicação Exclusiva é conto de fadas e oficialize este novo cenário.
Com o histórico salarial das universidades, o que acabou acontecendo é que a maioria dos bons professores, especialmente de áreas mais próximas ao mercado, acabaram se envolvendo em projetos paralelos para compor o salário.
E digo mais, muitos ganhando fora mais do que o próprio salário, seja em bolsas de fomento ou projetos ligados a órgãos públicos e privados.
Com isso, sobrou o vazio dos corredores das federais, ficando por ali apenas os samaritanos competentes ou os encostados incompetentes. O caminho mais objetivo para os mais produtivos é o sumiço das universidades.
O resultado é o péssimo clima organizacional nos departamentos, muitos deles em absoluto conflito de pares, brigando por migalhas de poder e recursos.
Ao contrário de outras greves, esta pode estabilizar e dar um novo rumo às universidades. O que está em jogo é um novo plano de carreira.
É a luta que vale a pena participar.
Voltando à greve
Com este clima de esvaziamento de debates e de pessoas, os professores simplesmente não aparentavam a mínima disposição para o conflito por salários.
Mas uma coisa essencial mudou nas universidades.
Os novos campi e universidades, muitos instalados no interior dos Estados, receberam um grande contingente de professores novos nos últimos 5 anos.
E a maioria destes não têm doutorado, apenas o mestrado.
E com isso recebem salários mais baixos, por volta de R$ 5 mil bruto, mesmo em Dedicação Exclusiva. Depois dos descontos, ficam com R$ 4 mil líquido.
E não estando dispostos a ficar esperando o acaso, resolveram ir à luta.
São eles que encheram as assembleias docentes no país e assumiram o papel que deveria ser de quem é mais experiente e está no comando dos departamentos e centros.
E o Proifes?
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O mais patético nesta história toda é o comportamento pelego do Sindicato Paralelo chamado Proifes.
Para quem não sabe, o Proifes surgiu durante o Governo Lula, com a promessa de dinamizar as negociações, já que o Andes (O Sindicato Oficial) não se entendia para isso.
Confesso que fui iludido e caí nesta conversa. Defendi a criação do Proifes, e errei feio.
Pois bem. Em meio ao furacão da discussão sobre a greve, em pleno 14 de maio, começa a divulgar notas em espanhol, acompanhando um congresso, como se nada estivesse acontecendo.
Como se não existisse um indicativo do Andes para o dia 17 de maio.
Depois desse comportamento surreal, para não dizer esquizofrênico, começou a se esforçar em dizer que não existe greve nas Universidades.
É a pelegagem do Século XXI, atuando via redes sociais.
Reunião com o Governo Cancelada
Na verdade esta história toda que comecei a contar foi para dizer que acabei de saber da notícia que o Governo simplesmente cancelou a reunião marcada para o dia 28 de maio, que iria discutira a carreira.
Ou resolveu endurecer o jogo, como fez com outras categorias, ou resolveu parar para formular uma proposta decente de acordo. Ainda não se sabe.
Fim da greve?
Os meus 22 anos de Universidade (5 deles apenas como aluno de graduação), permitem induzir que esta greve ainda vai demorar um pouco para acabar.
O prazo para envio de proposta orçamentária é dia 31 de agosto.
Salvo algum milagre de comportamento, o Governo vai esticar a corda com os professores até onde pode, e os Sindicatos idem. Este é o prazo em que estou me baseando para o desfecho. Pode até acontecer algo diferente, mas será fora do usual.
Ainda mais porque não é apenas um reajuste salarial que está em jogo, mas o reposicionamento da carreira, que é muito complexa, com seus 21 níveis de progressão.
Na prática muitos professores irão acabar o semestre durante a greve, mas após o fim desta, as Universidades serão obrigadas a reposicionar o calendário, dando as semanas que faltam para este semestre, e ainda um recesso de pelo menos 3/4 semanas para as provas finais e matrícula.
Defendo inclusive que se resolva alguns casos especiais de alunos com viagem marcada (caso dos intercambistas com visto de estudo até julho), já que o início do próximo semestre já está comprometido.
Como faltaria ainda 6 semanas para o fim do semestre, juntando com as 4 de recesso para matrícula e finais, teremos 10 semanas (2 meses e meio) para o início do semestre 2012.2.
Então, em um cenário otimista, com a greve terminando no fim de agosto, o próximo período só terá início na metade de novembro.
Posso até errar, mas o histórico anterior aponta para isso.
O que o aluno deve fazer?
Claro que minha previsão pode se mostrar errada, mas sendo plausível, o aluno deve se programar para tirar suas férias em julho, que será quando os professores que furaram a greve acabarão suas turmas, e o restante ainda estará em greve. E essas “férias” poderão ser prorrogadas até o fim de agosto.
Então não há o que fazer, a não ser se programar.
Em outras palavras, se organize para as férias de julho porque Natal e Carnaval serão no campus. Na pior das hipóteses cancela a viagem do meio do ano se a greve voltar, reprogramando para o recesso de matrícula (as 3/4 semanas que disse).
E antes de pensar que isso só prejudica os alunos, pense que os professores também comprometeram suas férias, além de estarem sendo prejudicados há anos pelo Governo, que nem ao menos se prontifica a discutir seriamente o assunto.
Pelo menos é o que o Governo está demonstrando com o cancelamento da reunião do dia 28 de maio.

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