Blog: Acerto de Contas
Com toda pompa possível, o Governo do
Estado anunciou algumas semanas atrás que irá dar um aumento percentual
substancial (22,22%) no salário do professor, cumprindo o piso nacional. Com
isso Pernambuco, pelo menos por enquanto, sai do patamar de pior salário médio
pago aos professores no país. Fica com o segundo pior salário.
Isso significa um impacto de quase 300
milhões de reais em um ano.
Números pomposos, de um Estado que
aparentemente coloca educação como prioridade.
Mas vamos ver o outro lado.
Com esse aumento no salário dos
professores, estes irão ganhar pouco mais de R$ 1.524,53 por uma jornada de 200
horas. Em outras palavras, isso é o máximo que conseguem, já que com essa
jornada não há tempo disponível para fazer a dupla ou tripla jornada, que é o
comum para o professor não morrer de fome.
Ah! Esse valor é se tiver o curso
superior completo. Aqueles que ainda possuem apenas o magistério receberão
menos. Na verdade estes nem deveriam estar dando aula.
Isso é menos que 3 salários mínimos.
O esforço do Governo parece louvável,
não há dúvidas. Mas indo além do que o Governo pensa ou faz, é preciso estar
atento para o que ocorre ao Estado brasileiro e como a sociedade se acostumou a
aberrações em nome da “legalidade” dos que deveriam zelar pela decência no
trato com os gastos públicos.
Enquanto a preocupação dos Governos com
a educação é não pagar menos que o piso aos professores, nas carreiras
jurídicas a discussão sempre está em não pagar acima do teto.
Basta verificarmos as matérias dos
jornais nos últimos anos.
De um lado professores brigando para
receber um piso cujo valor é menor que a remuneração de um camelô.
Do outro promotores, juízes,
parlamentares e auditores sempre se justificam com os pagamentos que são feitos
tomando como base o teto do serviço público. Isso quando não acontece como
agora, com promotores ganhando o Auxílio Spettus, parlamentares, promotores e desembargadores
recebendo retroativos de Auxílio Moradia, em uma verdadeira farra com o dinheiro
público.
E a desfaçatez é tão grande que se você
conversar com algum deles a argumentação é a mesma: não somos nós que
deveríamos ganhar menos, mas os professores que deveriam ganhar mais.
Como se uma coisa não tivesse relação
com a outra. Como se os cofres públicos fossem um saco sem fundo.
Apesar da educação ser o tipo de
situação onde é muito para quem paga e pouco para quem recebe, é preciso
encontrar uma solução que coloque o setor como prioridade. Se a relação entre o
maior e o menor salário não ultrapassasse uma razão de 5 ou 6 vezes,
assistiríamos a uma luta gigantesca pela valorização dos professores.
E ao contrário de muitas carreiras no
setor público, o professor trabalha muito. Muito mesmo. Já trabalhei na
Secretaria de Educação e sou testemunha da dedicação da grande maioria.
Aumentar o salário dos professores pode
até não melhorar a educação no curto prazo, mas esta falta de perspectiva
salarial já comprometeu os próximos 30 anos de melhoria da educação no Brasil.
Cada vez menos jovens são atraídos pela
desinteressante carreira de professor.
E eles têm razão, pois não há
perspectiva de mudança neste quadro perverso. Até hoje não apareceu um Governo
sequer que levasse educação a sério.
Nenhum!
Não há uma melhoria significativa
sequer que possa ser comemorada. Tudo é ruim. Desde a carreira de professor até
as condições de trabalho.
O inevitável resultado é a catástrofe
educacional que vive o Brasil.
Já dizia o professor Raimundo, no
longínquo ano de 1957: E o Salário Ó!
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