quarta-feira, 14 de julho de 2010

Violência contra a mulher põe Brasil em 12°

SÃO PAULO - Uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil, deixando o país em 12° no ranking mundial de homicídios de mulheres. A maioria das vítimas é morta por parentes, maridos, namorados, ex-companheiros ou homens que foram rejeitados por elas. Segundo o Mapa da Violência 2010, do Instituto Sangari, 40% dessas mulheres têm entre 18 e 30 anos, a mesma faixa de idade de Eliza Samudio, 25 anos, que teria sido morta a mando do goleiro Bruno.

Dados do Disque-Denúncia, do Governo Federal, mostram que a violência ocorre na frente dos filhos: 68% assistem às agressões e 15% sofrem violência com as mães, fisicamente.

Em dez anos (de 1997 a 2007), 41.532 meninas e adultas foram assassinadas, segundo o Mapa da Violência 2010, estudo dos homicídios feito com base nos dados do SUS. A média brasileira é de 3,9 mortes por 100 mil habitantes; e o estado mais violento para as mulheres é o Espírito Santo, com um índice de 10,3 mortes. No Rio, o 8° mais violento, a taxa é de 5,1 mortes. Em São Paulo - onde Eloá Pimentel, de 15 anos, foi morta em 2008 após ser feita refém pelo ex-namorado em Santo André, e que agora acompanha o desfecho do assassinato de Mercia Nakashima -, a taxa é de 2,8.

O sociólogo Julio Jacobo Waselfisz, responsável pelo levantamento do Mapa da Violência, criou um ranking das cidades com maior incidência de homicídio feminino em relação à população de mulheres. Dezenove cidades têm incidência de assassinatos maior que o país mais violento do mundo para as mulheres, El Salvador, com 12,7 mortes por 100 mil habitantes. Em Alto Alegre (Roraima) e Silva Jardim (Rio), a taxa chega a ser 80% maior. Nos últimos cinco anos, o índice foi de 22 e 18,8 mortes, respectivamente.

Violentas - Outras nove cidades do Rio estão entre as 30 mais violentas: Macaé (7° lugar), Itaguaí (14°), Guapimirim (19°), Saquarema (22°), Rio das Ostras (23°), Búzios (27°) e Itaboraí (29°). Entre as 30 mais violentas, oito são capixabas, incluindo Vitória, com 13,3 mortes por 100 mil habitantes. Duas são paulistas, Itapecerica da Serra e Monte Mor, esta em 6° lugar, com 15,2 mortes.

“A impunidade é o maior instrumento de incentivo à violência. A lei da selva impera em detrimento da educação, numa sociedade que exalta a violência. É preciso criar uma cultura da tolerância e da aceitação das diferenças”, diz Waselfisz.

Segundo dados divulgados pela ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulhere, os chamados do Disque-Denúncia (usado para denunciar abusos contra mulheres) passaram de 46 mil chamados em 2006 para 401 mil ligações em 2009. No primeiro trimestre deste ano, o serviço cresceu 65% em relação a igual período do ano passado, para 145,9 mil chamados.

Os relatos de violência triplicaram: de 9,3 mil para 29 mil. As mulheres agredidas têm entre 20 e 45 anos (62%), e nível médio de escolaridade. E 40% das assassinadas tinham de 18 a 30 anos. Os agressores têm entre 20 e 55 anos. Segundo Nilcéa, os crimes ocorrem quando elas terminam o relacionamento violento ou decidem ter um filho.

Autora do livro “Assassinato de Mulheres e Direitos Humanos”, que reúne dez anos de pesquisas sobre homicídios femininos em São Paulo, Eva Blay diz que há um padrão de agressores. Em sua pesquisa, de cada dez mortas por conhecidos, sete foram assassinadas por companheiros ou ex. As vítimas são de todas as classes sociais:

“Para os assassinos, a noção de serem proprietários das mulheres começa muito cedo”, afirma.
Bruno, de ídolo a suspeito de crime

RIO - Órfão de pais vivos, que o abandonaram aos 3 meses, Bruno foi criado pela avó paterna na periferia de Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O sonho era ser jogador de futebol, o mesmo de muitos meninos brasileiros, em geral nunca concretizado. Sua vontade era tanta que contrariou as estatísticas. Aos 12 anos, virou goleiro mirim e fez sua primeira grande defesa, na vida: agarrou a chance. De quase invisível, no início da adolescência, tornou-se um ídolo. Ele deixou um pequeno clube, passou por alguns outros médios e grandes, impediu alguns gols dados como certos e adentrou o gramado do Flamengo, um dos maiores times do país, com uma torcida fanática aos seus pés e um salário de R$ 200 mil.

O parágrafo acima descreve um típico roteiro de histórias de superação, de volta por cima. Mas era apenas um lado da história. O provável assassinato de Eliza Samúdio, ex-amante do goleiro Bruno, desaparecida há cerca de um mês, deu um choque de realidade na platéia que consumia a biografia politicamente correta do atleta, feita sob medida para garantir um sucesso de vendas. O outro Bruno, de sobrenome Fernandes das Dores de Souza, começou a aparecer.

“Com uma mão, ele me puxava forte pelo cabelo. Com a outra, apontava para a minha cara, me dando ordens para não gritar”, conta, assustada, uma garota de programa que, em 2008, participou de uma orgia no sítio do goleiro em Esmeraldas, Minas, onde diz ter sido surrada por Bruno e outros dois jogadores do Flamengo. “O Bruno é agressivo. Todos esses jogadores são. Ele gosta de humilhar as pessoas. Na minha colega, que tinha passado a noite com ele, e com quem já tinha ficado outras vezes, só batia no rosto e na cabeça. Depois, um deles nos abandonou na BR-040, com ameaças, dizendo que se vingariam se procurássemos a polícia. Assim mesmo, seguimos para a delegacia, sangrando em alguns ferimentos e com várias marcas roxas, principalmente no rosto”, relata.

Denúncia - O processo foi impetrado por duas das garotas de programa há dois anos. A denúncia, que corre na Justiça de Minas, dá conta de que 18 mulheres haviam sido contratadas para a orgia, a valores que variavam de R$ 300 a R$ 500, dependendo do que estivessem dispostas a fazer. O pedido de indenização por danos morais é de R$ 1,8 milhão. Fora dos autos, e agora com o caso de Eliza, as vítimas lembram impressionadas que Bruno, quando não estava batendo, garantia que o “serviço” fosse feito por seus colegas sem incômodas interrupções. Como a de um grupo de pagode local - que tocou na festinha particular -, cujos músicos socorreram, num determinado momento, uma das garotas.

“O Bruno olhava e avisava para uma rodinha de pessoas que viam um outro jogador nos bater e até atirar garrafas de bebida na gente: ‘deixa que ele sabe o que está fazendo’. E ninguém se mexia, pareciam ter medo dele”, lembra uma das vítimas.

Um antecedente que, se for verdadeiro, explica a declaração feita por Bruno este ano, quando foi veiculada a notícia, nunca comprovada, de que a então noiva do jogador Adriano havia sido agredida, e até amarrada numa árvore, numa festa na Favela da Chatuba, no Complexo do Alemão. Bruno, que era um dos jogadores convidados, disparou: “Qual de vocês (perguntou aos jornalistas) que é casado que nunca brigou com a mulher? Que não discutiu, que não até saiu na mão com a mulher”. Com a polêmica, ele voltou a público e pediu desculpas.

Fonte: O Estado do Maranhão (Assinatura).

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