terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sobre diplomas e cursos fraquinhos


Quais os parâmetros utilizamos para avaliar a qualidade dos cursos de formação policial? Já pensaram sobre isso? Desde que escrevi sobre a formação policial que venho refletindo sobre o assunto. Lembrei de um fato ocorrido no meu curso de sargento.

Durante aqueles tenebrosos dias, um cabo teve a audácia de perguntar ao oficial que estava à frente se na formatura do curso seria entregue algum diploma. Lembro perfeitamente que a tropa formada e o oficial acharam a pergunta engraçada. E você leitor, também acharia graça? Você também pensa que cursos de formação policial não merecem diplomas?

Naquela época, confesso que achei a pergunta meio que despropositada. Não havia recebido diploma quando formei no "Curso Técnico de Segurança Pública", por que iria receber no CFS? Hoje, pensando melhor sobre o assunto, digo que gostaria sim de ter recebido diploma ou certificado de conclusão desses dois cursos. Iria até emoldurá-los e colocá-los na sala da casa onde moro de aluguel. Iria ter orgulho de mostrá-los aos meus descendentes. Sabem por quê? Porque eu valorizo o conhecimento. E o diploma é a representação material do conhecimento que possuímos.

Outras pessoas valorizam mais as divisas, representação material do poder hierárquico. Não estou aqui para julgar ninguém. Cada um é cada um. Outras pessoas ainda valorizam o curso pela "ralação", pelos "rancas", pelas "jornadas", pelas bombas de gás, pelos "toros"... Para estes, os cursos que não tiveram quantidades exorbitantes desses "elementos" são fraquinhos, não prestam. Para estes, a qualidade do curso é medida pelo número de "rancas".

Essa cultura ainda existe em nosso meio. Além dos músculos, do vigor físico, o policial ainda tem que ser "enquadrado". Se ele não souber se apresentar, foi mal formado. Se chamou o cabo de "você", acabou-se o respeito. Se reclamou da escala que considera injusta, acabou-se a PM, não se formam mais soldados como antigamente. O respeito não precisa ser real, mas apenas ritual, mecânico. Verdade ou estou mentindo?

Aí eu pergunto a vocês: E o conhecimento imprescindível para o desempenho operacional? Será que não deveria ser o conhecimento o real parâmetro para medirmos a qualidade de um curso?

Sou da denominada "turma nova" de policiais militares e, com certeza, já devo ter sido, em algum momento (talvez até hoje), estereotipado/rotulado de "muchiba". Mensuraram a qualidade do meu curso de maneira inversamente proporcional à carga horária dos conhecimentos necessários às atividades tipicamente policiais. Se fosse o contrário, se meu curso tivesse sido inteiramente voltado às atividades militares, como marchar, ordem unida, etc., talvez minha imagem fosse um pouco melhor perante muitos policiais antigos. Se o curso fosse somente ralação, ranca, rastejo, bomba de gás, aí sim seria bom. Cursos bons são esses, com muita ralação, de acordo com muitos antigos. Cursos em que o conhecimento é colocado em primeiro lugar são fraquinhos, não prestam.

Na verdade, eu aprendi a teoria da atividade operacional (direito penal, administrativo, redação de BO, etc.) por minha própria força de vontade, estudando em casa, pesquisando na internet, lendo e relendo vade-mécuns. Apesar de para muitos meu curso ter sido de "muchibas", tive que me desdobrar pós-curso para aprender o que julgo ser verdadeiramente importante um policial saber.

Abstenho-me de fazer conclusões sobre o assunto. Somos seres subjetivos, cada um tem personalidade própria, convicções individuais. Apenas sugiro aos chefes de Centros de Ensino Policial que porventura lerem esta postagem que incluam na solenidade de formatura dos cursos a entrega de diplomas/certificados aos formandos. Valorizem o conhecimento de seus alunos. Mostrem aos familiares e autoridades presentes que, para ser policial, não basta músculos, saber marchar ou fazer continência; inteligência e conhecimento também são fundamentais.
Por Universo Policial

Nenhum comentário: