quarta-feira, 4 de novembro de 2009

GESTÃO DE PESSOAS NA POLÍCIA: A REALIDADE SEM MAQUIAGEM

Sérgio Siqueira
Tem sido de grande valia no serviço público de uma forma geral, os avanços na área de seleção de pessoal, o que se deve não só ao grau de exigências adotado pela administração, como também a questões sociais, já que a escassez e instabilidade de empregos no setor privado motivam as pessoas a buscarem a segurança do serviço público. Por um motivo ou outro, a administração pública tem se beneficiado, já que o nível de qualificação dos candidatos tem sido cada vez maior, o que se coaduna perfeitamente com o princípio da eficiência pregado em nossa Constituição Federal. Porém, em nossa instituição parece que o referido príncipio vem sendo invocado apenas na seleção de pessoal. Desconsidera-se ou distorce-se a eficiência quanto à sua aplicação na filosofia de trabalho empregada na máquina administrativa da Polícia Civil de Pernambuco.

Eficiência é bem mais que simplesmente escolher um perfil adequado para um determinado cargo! A eficiência deve ir para além do processo seletivo! Ser eficiente é poder garantir a superação da “falta” de uma política efetiva e concreta de valorização dos cargos e conseqüentemente dos servidores, pois é essa realidade caótica que vem provocando uma grande insatisfação e desmotivação na categoria policial civil do nosso Estado, e trazendo uma série de conseqüências adversas, dentre as quais, a preocupante quantidade de exonerações voluntárias, já que do início do corrente ano até meados de outubro se chegou a um número de aproximadamente 135 exonerações, sendo que a grande maioria das pessoas que estão optando por abandonarem a carreira, têm no máximo 1 ano de exercício nos seus respectivos cargos, o que me parece, apesar do pouco tempo, já terem percebido a situação desfavorável e estarem buscando horizontes que lhes propiciem retornos condizentes com seus esforços e desempenhos na realização de suas atribuições.

Para que esse quadro comece a mudar e verdadeiramente se tenha o princípio da eficiência sendo utilizado satisfatoriamente em nossa categoria, é necessário que conhecimentos básicos e há muito já consolidados nas áreas que envolvem Gestão de Pessoas sejam efetivamente adotados. Não há como atingir a tão clamada eficiência policial exigida pela sociedade, com um modelo de gestão de pessoas que não se preocupa com o servidor, que não se preocupa em gerar condições para que o policial tenha psicológica e fisicamente, durante toda sua carreira, condições de ter seu desempenho otimizado a partir de políticas de valorização pessoal e profissional, deixando-se de lado a exploração e a opressão, as quais são estratégias arcaicas, pouco produtivas, que ferem a dignidade da pessoa humana e que não podem mais existir dentro de órgãos públicos.

Não se é mais admissível dentro do serviço público tratar o policial como uma máquina que não tem aspirações, família, auto-estima e necessidades. É necessário perceber que os policiais estão sujeitos, quando expostos demasiadamente a situações de extremo desgaste físico e mental, ao adoecimento e ao afastamento do trabalho, o que afeta a prestação satisfatória do serviço à população.

 Não é mais admissível haver chefes que não têm a menor habilidade no gerenciamento de pessoas;
 Não é mais admissível que pessoas que passam toda a carreira cumprindo dignamente com suas atribuições sejam preteridas e injustiçadas, tendo todas suas contribuições de anos de trabalho descartadas como se não tivessem nenhum significado;
Não é mais admissível que a Administração se aproveite dos péssimos salários que paga aos policiais civis, para escraviza-los com cotas de gratificações desproporcionais com o trabalho realizado e que podem ser retiradas a qualquer tempo, não tendo nenhuma incorporação na remuneração do policial.
Não é mais admissível se buscar dar respostas à sociedade com uma visão equivocada de eficiência, a qual tem como pilar o submetimento de policiais a cargas de trabalho desumanas, sendo sugados ao máximo, até que extrapolem seus limites físicos e psíquicos;

É diante dessas e outras situações que estão escandalosamente explícitas aos olhos de todos, que se percebe quais são os motivos de tantos policiais estarem torcendo pela chegada rápida do momento da aposentadoria, de tantos policiais estarem procurando tratamento médico e de tantos policiais estarem buscando uma aprovação em outros concursos públicos. Enquanto houver a insistência na perpetuação dessa política equivocada de direção, todos continuarão a perder, porque a perda não só é para o policial massacrado, mas para instituição, para o Estado e conseqüentemente para toda a sociedade.

“Mudanças têm que ocorrer, não é mais possível continuarmos nessa situação!!!”

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