sábado, 15 de junho de 2013

O POVO ACORDOU

      Postado em: Política /ACERTO DE CONTAS

“Me tiram o sono, mas não me tiram o sonho”, Gabriel, o Pensador:.
Esta semana o protesto paulista contra o aumento de passagens de ônibus mostrou que o povo acordou.
E tudo isto à margem das instituições tradicionais.
Partidos políticos, OAB, UNE, nada disso disparou a mobilização, como era de se esperar em anos anteriores.
Um grupo de estudantes organizados em torno de uma ideia, a do Passe Livre, conseguiu fazer o que a real politik considerava improvável: mobilizar corações e mentes em busca de algo.
Pouco importa o que se está pedindo. Na prática está virando uma massa de pessoas cansadas de tudo o que está acontecendo.
No fundo todo mundo está cansado de observar agrupamentos políticos esdrúxulos em torno do poder, seja ele qual for. Virou moda o falso consenso em torno de grupos hegemônicos, tanto a nível local como nacional. Temos visto oposições cada vez mais diminutas nos legislativos. 
Isso sem falar nos movimentos sociais, imprensa e instituições completamente abduzidas.
A UNE, cartório do PC do B, é uma vergonha. A CUT e Força Sindical nem se fala. Ministérios Públicos cada vez mais à serviço de quem está nos governos. O Judiciário, em seus tribunais locais, fazendo qualquer coisa para agradar governadores.
Exemplos não faltam.
Neste caldeirão onde todas as entidades estão preocupadas com um naco de poder ou pequenas porções de auxílio financeiro, esqueceram de avisar ao povão que está tudo bem.
A Revista Época divulgou um estudo mostrando o custo do transporte público em relação ao salário mínimo dos países. Em São Paulo gasta-se quase 17% do salário mínimo apenas pegando o ônibus para ir trabalhar.
É verdade que nosso salário mínimo é baixo, comparado a outros países, mas mostra como sofre quem ganha pouco e precisa do ônibus todo dia.
E mais.
A revolta se concentra nos estudantes e nos trabalhadores informais, porque no Brasil arrumou-se uma forma de maquiar o impacto do aumento dos transportes, jogando a carga para as empresas. Por aqui a empresa paga o transporte do trabalhador, descontando no máximo 6% do salário.
Imagine se esta carga das empresas fosse repassada em dinheiro para o trabalhador, e este sentisse no bolso o valor real do transporte público. Como empresário não protesta, se isso se invertesse as ruas seriam pequenas para aglutinar tamanha revolta.
E veja que estamos falando do peso enorme no transporte público no Brasil. Não estamos falando dos VLTs portugueses, do metrô londrino ou dos ônibus elegantes de Varsóvia.
Estamos falando do ônibus montado sobre carrocerias de caminhão Made in Brasil. Estamos falando do Terminal Integrado Tancredo Neves. Estamos falando do ônibus sem faixa exclusiva, cujo usuário vai no abafa-banana observando o carro refrigerado ao lado, na mesma velocidade nas ruas intransitáveis.
Aqui em Recife o caso chega a ser mais grave. Para quem não se lembra, o ex-Prefeito JPLS diminuiu o ISS de 5% para 2% ao apagar das luzes de seu mandato, sem avisar ninguém e sem reduzir a tarifa para a população. Esta falta de vergonha absoluta do petista mostra como a população é tratada. O Acerto de Contas fez um estudo com dados históricos, mostrando que a tarifa do ônibus subiu muito mais do que a inflação, desde 1997.
E em meio a toda esta cena dantesca, onde entidades pelegas e partidos são abduzidos por dinheiro, nada mais natural que a população resolva acordar e sair às ruas para protestar, cada um a seu jeito.
Não tem bandeira específica, não tem liderança formada, não tem entidade formal organizando nada.
Apenas o povo.
Algo meio sonhador, anarquista, protestando contra tudo, em algo que provavelmente não vai levar a lugar algum, mas que levará a todos os cantos.
O povo acordou e saiu da inercia.
E a real politik ainda não entendeu que a repressão é o principal combustível para a mobilização.
E como cada um pede o que quer, no dia 20, no protesto do Recife, o blog vai pedir as faixas exclusivas de ônibus. Esta é a nossa bandeira.

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