segunda-feira, 18 de março de 2013

Qual o efeito do rodízio de carros no Recife? mar 15, 2013 by Pierre Lucena



De uma maneira ainda incipiente e sem maiores detalhes, foi colocada a ideia do rodízio de carros no Recife.
Isso já funciona em algumas cidades, a exemplo de São Paulo, que começou com um rodízio retirando 20% dos carros das ruas nos dias de semana, pela numeração da placa. Os carros com placas de numeração terminando em 1 e 2 não podem sair às segundas, de 3 e 4 às terças e assim por diante. Segundo informações, hoje funciona também em horários de pico.
João Braga, segundo os jornais, teria colocado a ideia de se fazer um rodízio diferente: o rodízio seria colocado nos horários das 6h30 às 8h30 e das 17h às 19h. Os carros com placa terminando em números pares seriam impedidos de circular nos dias ímpares e o inverso aconteceria para as placas ímpares.
Vamos analisar, e para facilitar vamos colocar por pontos. Vou gripar as palavras-chave.
  1. Rodízios de carros têm se mostrado inúteis, quando feitos no formato de São Paulo. O que acontece é que a família compra o segundo carro, e na prática acaba colocando ainda mais carro na rua, já que o filho que não tinha carro, agora possui carro para 3 outros dias.
    Fica assim neste caso: o pai sai com carro principal 4 dias da semana, e utiliza durante um dia o carro secundário. E o filho pega o carro secundário nos outros 3 dias em que isto é possível.
    É pior para o meio-ambiente, pois normalmente compra-se carro mais velho, e ainda piora o trânsito.
  2. rodízio proposto pelo Secretário João Braga é muito mais inteligente. Para começar, retira apenas no horário de pico, e ainda tira o carro 50% dos dias nos horários de rush. Mesmo que se compre o segundo carro, na média não se transita mais, como no caso de São Paulo. Aumenta-se a frota, mas não o número de carros na rua.
  3. Olhando pelo outro lado, não há a menor necessidade de proibição de carros via rodízio.
    Quer uma solução rápida?
    Pinte faixas exclusivas de ônibus, colocando pardais abundantemente, nos principais corredores do Recife que possuem 3 ou mais faixas, como as avenidas Rosa e Silva, Rui Barbosa, Domingos Ferreira, Conselheiro Aguiar, Abdias de Carvalho, etc. O trânsito para os donos de carros vai piorar violentamente e a situação de quem anda de ônibus vai melhorar muito. Quando um cidadão que mora em Casa Forte perceber que em 10 minutos chega na Agamenon de ônibus, e de carro vai gastar 1 hora, ele vai repensar sua mobilidade.
    Quer outra dica?
    Comece a proibir o estacionamento em várias ruas, obrigando o motorista a pagar estacionamento privado. Carro é um bem particular, e cabe ao dono do automóvel resolver seu problema de espaço para estacionar.
    Tudo isto vai melhorar a situação sem ir para o rodízio.
  4. A restrição em horários de pico não é algo novo.
    No Rio de Janeiro, por exemplo, caso encoste o carro para deixar o filho no colégio nas principais vias, o dono do veículo é multado sem pena. Filho só chega no colégio a pé ou de transporte escolar autorizado. Aqui em Recife se faz fila tripla achando que está tudo certo.
  5. Está na hora de melhorar definitivamente o transporte público. Sei que o BRT e a nova licitação irão dar um upgrade razoável, mas ainda é muito pouco perto do que a cidade precisa e merece.
    E precisa aumentar a quantidade de ônibus, porque com a quantidade atual será um desastre.
    A pergunta que se faz antes de tudo é: vai melhorar o transporte público para deixar o carro em casa?
    A resposta é clara: não, não vai. Não espero isso no curto prazo, e ainda acho esta pergunta fora de hora, já que 70% da população anda de ônibus.
    Por outro lado, estou absolutamente convencido da melhoria do transporte público só vai acontecer quando a classe média andar de ônibus. Enquanto for transporte exclusivamente de pobre e de jovens, o Governo vai dar as costas como sempre deu.
  6. E por falar em melhoria de transporte público, não estou vendo melhoria alguma para quem anda de ônibus. Vai disputar espaço da mesma forma com os carros. A melhoria será residual e na mesma medida para os carros, o que é injusto com quem anda de ônibus.
  7. É preciso colocar o táxi definitivamente dentro do modal de transporte. Quando falo isso, me refiro a licenças para taxistas com obrigação de ficar exclusivamente em alguns pontos, como metrô, além de circulação em horários pouco convenientes. Está na hora de achar que isso não é licença de serviço público. E estes devem ter o privilégio de andar nas novas faixas exclusivas, como coloquei acima.
    Muita gente vai se recusar a andar de ônibus, mas vai passar a usar táxi no dia a dia. Já será um avanço.
Visto estes pontos, considero uma atitude corajosa do Governo Geraldo Julio. Vai enfrentar a classe média corrocrata, e para isso vai ser preciso muita vontade.
Aliás, este será o teste de fogo para Geraldo Julio. Saberemos se está disposto ao enfrentamento pela cidade.
Quando vejo isto, só me lembro da covardia de João Paulo quando Prefeito, que fraturou a ciclovia da Avenida Boa Viagem, já planejada (com os postes de iluminação instalados), apenas para contemplar vagas de estacionamento a beira-mar.
Por mais prejudicado que eu seja, já que vou à UFPE de carro, não consigo ser contra a restrição de automóveis apenas pelo prejuízo que me causa. Eu ando de carro, mas não consigo achar ruim qualquer medida restritiva ao uso deste. Eu faria um pouco diferente, como colocado acima, mas já vejo com bons olhos a tentativa de retirada de automóveis das ruas. 
E se pudesse dar uma dica ao Prefeito e ao Secretário, seria a de pintar faixas nos corredores mais difíceis, como a Rosa e Silva e a Rui Barbosa. Deixe o motorista de carro ficar no desespero ao mesmo tempo em que o cidadão que anda no ônibus tem a sensação de que a cidade olha para ele. Mostra uma grande inversão de valores no Recife.
A cidade é para as pessoas e não para os carros, e uma hora essa relação precisa inverter.
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PS: algo interessante foi a  anúncio, em um final de tarde de sexta-feira. Isso evita reações exageradas nas redes sociais, que estão muito mais calmas aos fins de semana.
Esta é uma tática utilizada por empresas no momento de divulgação de informações ruins. Divulga-se resultados ruins após o fechamento das bolsas, às 17 horas. Com isso o mercado financeiro tem o fim de semana para absorver a informação.

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