Dois escritores de crônicas, ensaios, peças teatrais, contos e romances, poesias e redondilhas fariam 100 anos este ano, certamente ruborizados com o que está acontecendo aqui na política do nosso País. Ninguém resiste ao tempo, à imortalidade literária, ao encanto da intelectualidade, à sordidez de críticas liliputianas – ao torcer da cara colonialista – à magia da idéia, senão os mestres da palavra que fica arraigada na puída poeira das masmorras da memória. Um era pernambucano e o outro um baiano da cepa e gema itabunense. Pena que o primeiro só apenas tenha nascido aqui e nunca deu bola pra gente, ao menos num versinho (só ao Rio de Janeiro, que abraçou), ao contrário do segundo que enalteceu sua terra até sua morte em tudo quase que escreveu. Gostavam de uma boa prosa, de requintadas cachaças-de-cabeça, adoravam teatro, cinema, música e saraus, varavam as noites em grandes polêmicas quanto às publicações estrangeiras e ao futuro da nossa Pátria. Ambos morreram. Ambos são festejados hoje pelo brilho de grandes pioneiros em quebrarem os derradeiros tabus da sociedade quanto à hipócrita moralidade das épocas patriarcais vividas. Trilharam a fama que diferencia suas magnitudes para descarrilar como dos poucos gênios diferenciados nas raízes da história da literatura brasileira (tais Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda). Pois bem, Nelson Rodrigues sabia tanto das “Raízes do Brasil” de Sérgio, que deu “chuteiras” ao nosso patriotismo. Jorge Amado soube como nenhum outro romancista exaltar nossas tradições em belas narrativas que o Prêmio Nobel de Literatura ainda lhe deve aquele galardão ainda que seja post-mortem sob pena de um perdão doloroso de Alfred, lá onde estão. Quantos vestidos de noivas e de viuvinhas de Copacabana não seriam alinhavados nos moldes esculturais de Gabriela, Tieta e dona Flor? Tantíssimas outras ousadias balançaram cabeças das normalistas dos anos dourados e rebeldes como o valor da virgindade, nus artísticos em ribaltas ou filmes pornôs, trazendo à tona outras realidades cotidianas como traições, mortes, falcatruas e adultérios nas altas rodas sociais, briga de facas e homossexualismo das duas bandas. E as outras fuxicadas do dia a dia e das noitadas nas capitais e cidadezinhas do interior – seus bordéis requintados de atraentes putas, gigolôs borboleteados, os cabrestos de coronéis do asfalto e do campo, playboys, valentões da zona e os bêbados com as golas meladas de sangue? Eram dois mestres certinhos em linhas tortas estilísticas. Se, por um lado, Nelson se consagrava como o mestre da crônica tragicômica do nosso teatro da vida – deixando Molière mordendo as trombetas de Gabriel, pelo outro, Amado cauterizava-se como o mestre da ficção deliciosa de suas histórias, sem nenhuma conta a pagar de Balzac. Os dois viraram celebridades deixando obras míticas. Cada um criou sua fama. Cada um virou uma chama – e bota labareda nisso!
Rivaldo Paiva é da Academia Recifense de Letras
E-mail: paiva.rivaldo@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário