O nosso Brasil, de uma
vez por todas, foi mergulhado e se afoga letal e vagarosamente no
mundo irreal da China dos Mandarins.
Não aquela China das mulheres
de rabicho, das muralhas centenárias, dos pórticos da castidade e
das mochilas recheadas de táleres para premiar o bom e honesto
comportamento dos homens que tinham obrigação de serem exemplos de
dignidade para seus descendentes.
Mas, uma farsa de políticos
conseguiu imergir, com gana e lama imensuráveis o nosso País numa
hipotética “China” de arrogantes “mandarins” e usurpadores –
do patrimônio público e da consciência do povo – esquecendo-se
dos propósitos da ética e da moral.
Tal Hamlet: “essas coisas não
passam de armadilhas e de uma coleção de calamidades”. Nem Mao
fez tanto mal ao seu povo quanto esse partido vermelho daqui e suas
súcias de aliados (com exceções), ruborizando grande parte de seus
sérios petistas por anos a fio.
O furor fornece armas e já tem
muita gente com raiva. Por isso resta-me procurar outro lugar onde eu
possa, pelo menos, viver as coisas mais simples, sonhar com a
verdade, ilusão, o amor e até mesmo com o ódio, daí reconto
Martins Fontes, no vago misticismo de quem sonha um sonho abandonado.
Somente olhem para o tempo. As horas envelhecem depressa. Estamos
mais velhos a cada segundo.
A ansiedade faz ironia com o meu coração
acelerado de tristeza. Acho que irei para as Ilhas Galápagos –
melhor conviver com calangos, calangos-tangos, camaleões irracionais
(é bom frisar), quietos e expostos a um sol ranzinza.
Ou, que tal
ser carregado para o Atol das Rocas? Seria uma boa pedida.
Quem sabe
surfar nos tsunamis da Indonésia, ou prevenir-me de sobracéus
diante os pesados invernos de Ranchipur? Então, que me levem para
Marte, clube da chave, como dizia Antonio Maria, mas, por favor, “sem
couvert”.
Obriguem-me a esquecer das CPIs que não dão em nada e
das coisas ruins, como das pessoas que comem com os olhos, mastigam
palitos e se esmeram de que sabem de tudo. Livrem-me das óperas, do
beisebol, das doenças paralisantes, dos intelectuais metrificados e
dessa gente fanática por quaisquer religiões.
Deixem-me longe da
maioria dos políticos – que para mim, hoje, não passa de uma
fedorenta matéria com toques e retoques retóricos de enriquecimento
ilícito, sempre caramelada de falsidades, daquelas de acicatar
qualquer mediana inteligência.
Façam de tudo para que nunca mais me
lembre do que nunca consegui aprender: datilografia, falar japonês
ou bajular essa elite carburante de maldade.
No entanto, também, com
exaltação, me façam lembrar as coisas boas e importantes dos
melhores anos do resto da minha vida – saber através de Barthes,
que a imagem é peremptória e que ela tem sempre a última palavra;
ouvir os Beatles, Gonzagão, assim como recitar as “evocações”
de Bandeira e ser amigo do rei; ainda vibrar com a genialidade de
Garrincha e Pelé. Por fim, ler bons cachos literários de Tolstoi,
comer uma mão-de-vaca e assistir de novo “A vida é bela” de
Benini. Aí estarei preparado para ficar a um passo da eternidade.
Rivaldo
Paiva é escritor – E-mail:
paiva.rivaldo@hotmail.com
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