segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pobre de nós daqui


O nosso Brasil, de uma vez por todas, foi mergulhado e se afoga letal e vagarosamente no mundo irreal da China dos Mandarins. 
Não aquela China das mulheres de rabicho, das muralhas centenárias, dos pórticos da castidade e das mochilas recheadas de táleres para premiar o bom e honesto comportamento dos homens que tinham obrigação de serem exemplos de dignidade para seus descendentes. 
Mas, uma farsa de políticos conseguiu imergir, com gana e lama imensuráveis o nosso País numa hipotética “China” de arrogantes “mandarins” e usurpadores – do patrimônio público e da consciência do povo – esquecendo-se dos propósitos da ética e da moral. 
Tal Hamlet: “essas coisas não passam de armadilhas e de uma coleção de calamidades”. Nem Mao fez tanto mal ao seu povo quanto esse partido vermelho daqui e suas súcias de aliados (com exceções), ruborizando grande parte de seus sérios petistas por anos a fio. 
O furor fornece armas e já tem muita gente com raiva. Por isso resta-me procurar outro lugar onde eu possa, pelo menos, viver as coisas mais simples, sonhar com a verdade, ilusão, o amor e até mesmo com o ódio, daí reconto Martins Fontes, no vago misticismo de quem sonha um sonho abandonado. Somente olhem para o tempo. As horas envelhecem depressa. Estamos mais velhos a cada segundo. 
A ansiedade faz ironia com o meu coração acelerado de tristeza. Acho que irei para as Ilhas Galápagos – melhor conviver com calangos, calangos-tangos, camaleões irracionais (é bom frisar), quietos e expostos a um sol ranzinza. 
Ou, que tal ser carregado para o Atol das Rocas? Seria uma boa pedida. 
Quem sabe surfar nos tsunamis da Indonésia, ou prevenir-me de sobracéus diante os pesados invernos de Ranchipur? Então, que me levem para Marte, clube da chave, como dizia Antonio Maria, mas, por favor, “sem couvert”. 
Obriguem-me a esquecer das CPIs que não dão em nada e das coisas ruins, como das pessoas que comem com os olhos, mastigam palitos e se esmeram de que sabem de tudo. Livrem-me das óperas, do beisebol, das doenças paralisantes, dos intelectuais metrificados e dessa gente fanática por quaisquer religiões. 
Deixem-me longe da maioria dos políticos – que para mim, hoje, não passa de uma fedorenta matéria com toques e retoques retóricos de enriquecimento ilícito, sempre caramelada de falsidades, daquelas de acicatar qualquer mediana inteligência.
Façam de tudo para que nunca mais me lembre do que nunca consegui aprender: datilografia, falar japonês ou bajular essa elite carburante de maldade. 
No entanto, também, com exaltação, me façam lembrar as coisas boas e importantes dos melhores anos do resto da minha vida – saber através de Barthes, que a imagem é peremptória e que ela tem sempre a última palavra; ouvir os Beatles, Gonzagão, assim como recitar as “evocações” de Bandeira e ser amigo do rei; ainda vibrar com a genialidade de Garrincha e Pelé. Por fim, ler bons cachos literários de Tolstoi, comer uma mão-de-vaca e assistir de novo “A vida é bela” de Benini. Aí estarei preparado para ficar a um passo da eternidade.

Rivaldo Paiva é escritor – E-mail: paiva.rivaldo@hotmail.com


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