segunda-feira, 30 de abril de 2012

Burocracia e Corrupção



para o Acerto de Contas

Dia desses peguei um já iniciado debate sobre Burocracia e Corrupção, que trazia em seu enunciado o vídeo reproduzido acima.
A questão era: “Situações como a dramatizada no vídeo existem para induzir a corrupção, ou é a corrupção que induz a isso, ou corrupção não tem nada a ver com isso?”
O tema é suficientemente provocante, embora estejamos tratando de dois assuntos diferentes que o brasileiro adora misturar, para justificar seus próprios desvios.
De um lado está a desigualdade que o serviço público gera, com seus salários fora dos padrões de mercado, a indecente aposentadoria integral e a inadministrável estabilidade, que os condena precocemente à estagnação. Neste cenário, nascem personagens como o senhor do vídeo, mais preocupado em se livrar do trabalho do que em atender seu público – que é, na realidade, seu patrão.
burocracia (1)
Junto a isto, vemos o papel excessivamente controlador do Estado, apoiado em práticas burocráticas que, em tempos de Internet, home bankingscanners e certificados digitais, não têm mais razão de existir. Persistem apenas para manter um contingente de funcionalismo público que atende a fins puramente eleitoreiros.
Economias muito controladas são, historicamente, as mais corruptas. Vide Rússia e China. Nestes casos, creio que o sistema leva à corrupção. O que não significa, entretanto, que seja uma relação rígida de causalidade, já que há países com economias muito controladas mas pouco corruptas e, outras, pouco controladas mas muito corruptas.
O caso brasileiro, contudo, é diferente. Para entender, é preciso combinar ambos os cenários descritos acima.
Do outro lado, está alguém que quer criar dificuldades para vender facilidades. Perto dele – e, principalmente, dependendo dele – está alguém que não quer dificuldades, porque acha que sempre pode dar um jeitinho. Corrupto e o corruptor, respectivamente. Duas figuras desavergonhadamente atadas, visceralmente dependentes uma da outra.
Se você me perguntar, acredito que no Brasil há mais corruptores do que corruptos. O segundo só existe se o primeiro existir – e não o contrário. Para termos mil policiais corruptos é preciso haver um milhão de corruptores (chute).

Corrupto é o outro

A moça do vídeo é exatamente o antídoto da corrupção – e, infelizmente, é um personagem que não existe no país do despachante, no reino do serviço público loteado, na republiqueta do malandro.
Político safadoJá travei batalhas semelhantes em busca do carimbo perdido, do selo mitológico e da autenticação prometida, em repartições onde os funcionários não disfarçam o desapontamento quando você ultrapassa o último obstáculo.
O problema é que o brasileiro acha plenamente justificável ser o corruptor quando ele (acha que) está certo. Ele (acha que) pode beber duas latas de cerveja, então suborna o guarda da Lei Seca. Ele acha que tem muita burocracia, então paga para passar na frente. Ele não questiona a Lei enquanto instituição, mas enquanto algo que o prejudica, pessoal e individualmente.
Jamais imagina que se ele fizer tudo o que a Lei pede (como todos), observando os prazos (que são para todos), a máquina da corrupção tende a quebrar. Só que, assim como no Dilema do Prisioneiro, ele não quer dar o primeiro passo. Mas, de acordo com a Teoria dos Jogos, a melhor solução individual é a pior solução coletiva – e isto é cíclico, ou seja, volta-se contra ele, eventualmente e de forma implacável.
Concluindo, entendo que no Brasil a enorme burocracia sugere a corrupção – e a sugestão é aceita de muito bom grado por um povo imensamente preguiçoso e confortavelmente corrupto. Mas a culpa é sempre do outro.

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