domingo, 12 de junho de 2011

Governo do Rio propõe usar 30% de fundo especial para gratificar bombeiros

Governo do Rio propõe usar 30% de fundo especial para gratificar bombeiros

Cabral propõe usar 30% de fundo especial para gratificar bombeiros. Governador envia mensagem à Alerj nesta segunda-feira (13/06). Protesto por anistia a bombeiros reuniu 27 mil em Copacabana, diz PM.

O governador Sérgio Cabral vai enviar na segunda-feira (13) mensagem à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) modificando a destinação dos recursos do Fundo Especial do Corpo de Bombeiros (Funesbom) para que 30% deles sejam utilizados para pagamento de gratificações aos bombeiros. As informações foram divulgadas pela assessoria do governo na noite deste domingo (12).

Os restantes 70% serão utilizados para manutenção e aquisição de equipamentos e treinamento de pessoal necessários ao trabalho de Defesa Civil, bem como assistência médico-hospitalar e assistência social do Corpo de Bombeiros.  Em 2010, o fundo arrecadou cerca de R$ 110 milhões, informou o governo.
Procurado pelo G1, o cabo Benevenuto Daciolo, um dos líderes do movimento, informou que uma das reivindicações da corporação é acabar com as gratificações, que segundo ele, são dadaa apenas a algumas categorias dos bombeiros. "Gratificação não é salário. Se quiser gratificação pode dar, mas antes nós queremos um salário digno", afirmou.
"O governo precisa ser mais objetivo. Nós queremos o término das gratificações e um piso líquido de soldado de R$ 2 mil e vale-transporte. Dentro disso a gente pode conversar”, disse ele.
Ainda de acordo com Daciolo, outra reivindicação é a anistia criminal e administrativa dos militares que foram presos após a invasão do quartel central no dia 3 de junho. Na próxima quarta-feira (15), os mais de 400 bombeiros que foram soltos no sábado (11) terão que comparecer à Auditoria Militar.

Na última quinta-feira (9), Cabral anunciou a criação da Secretaria de Estado de Defesa Civil e enviou à Alerj uma mensagem antecipando de dezembro para julho os seis meses de reajustes salariais para bombeiros, policiais militares, policiais civis e agentes penitenciários. O reajuste para as categorias será de 5,58%, um impacto de R$ 323 milhões no caixa do estado. Somados aos reajustes de janeiro a junho deste ano, as categorias passam a acumular 11,5% de aumento salarial em 2011, informou o governo.
Após o anúncio na quinta-feira, o coronel Sérgio Simões afirmou que não vai deixar de tentar negociar um aumento para os bombeiros com o governo. Segundo ele, o reajuste de 5,58% representa para um soldado solteiro e sem filhos, que acaba de ingressar na corporação, mais R$ 78. Antes da antecipação do reajuste, o militar nessas condições recebia R$ 1.187 e agora vai ganhar R$ 1.265.
Protesto de bombeiros reúne milhares de pessoas em Copacabana
O protesto dos bombeiros realizado na orla Copacabana, na Zona Sul do Rio, neste domingo (12), atingiu a marca de 27 mil participantes, de acordo com informações da tenente-coronel Claudia Lovain, comandante do 19º BPM (Copacabana). Ainda segundo a comandante da PM, 150 policiais trabalharam no policiamento, espalhados ao longo da orla, mas não houve registro de confusão no evento.
Milhares de pessoas compareceram à manifestação para apoiar os bombeiros, que pedem melhores salários e anistia dos agentes que haviam sido presos. Os integrantes da corporação também aproveitaram o evento para agradecer o apoio da população.
"A passeata superou todas as expectativas, é indescritível. Nunca vimos nada assim. A partir de amanhã (segunda-feira, 13) vamos começar a conversar, para decidir os próximos passos", disse o capitão do Corpo de Bombeiros, Lauro Botto.
"Amanhã, às 10h30, estaremos na Alerj para uma reunião com o deputado Freixo. Através dele, vamos tentar chegar ao Paulo Melo para que ele tente um contato entre nós e o governador Sérgio Cabral", explicou o cabo Benevenuto Daciolo. Segundo ele, todos os bombeiros que estavam presos foram libertados até a noite de sábado (11).
A marcha dos bombeiros durou cerca de 3h. Os manifestantes chegaram ao Posto 6 da Orla de Copacabana por volta das 14h30, onde cantaram o hino nacional.
Moradores apoiam os bombeiros
"Eles são nossos heróis, tínhamos que estar aqui", diz a dona de casa Hyna Carvalho, acompanhada do marido e da filha. Muitos moradores da orla de Copacabana atenderam aos pedidos dos bombeiros e penduraram bandeiras vermelhas em suas janelas.
"Eu tenho um primo que é bombeiro no Sul do Brasil. Vim representando ele, era minha obrigação. É muita emoção participar de um ato desses", contou a aposentada Zuleide Gomes.
Sargento Erik, à esq., segura um falso braço
amputado (Foto: Lilian Quaino/G1)
O sargento Erik, do Centro de Suprimentos e Manutenção dos bombeiros, encontrou na passeata o amigo sargento Marcio Ferreira, do mesmo batalhão. Márcio estava preso no quartel de Charitas, em Niterói. Na emoção do encontro, Erik mostrou um adereço: um falso braço amputado. Ele explicou: "Podem amputar a mão do bombeiro, mas seu coração continuará batendo", disse ele.
O bombeiro argentino Mathias Montecchia chegou há uma semana no Rio para apoiar os bombeiros durante os últimos protestos. Exibindo seu contracheque, ele conta que ganha 7 mil pesos em seu país, o que equivale a cerca de R$ 2.700. "Eu vim apoiar, não é possível um herói ganhar o que eles ganham. Na Argentina eu ganho muito mais", disse.
Bombeiros encerram passeata em Copacabana (Foto: Thamine Leta/G1)Bombeiros fazem passeata na orla de Copacabana (Foto: Thamine Leta/G1)

Um comentário:

Carlos disse...

Por que o ato dos bombeiros cria um precedente perigoso

Os bombeiros assim como qualquer categoria têm o direito de pedir melhoria salarial, ocorre que por servirem junto com a PM, sob regime militar, lhes é vetado o direto à greve. Nos últimos dias o que tenho visto no Rio é um circo. Uma categoria que vem sendo “doutrinada” por políticos faz meses, chega ao ponto de rasgar sua lei militar, invadir um quartel, ocupar e inutilizar viaturas.
Ora, isso é inadmissível em um estado de direito. Imaginemos se médicos decidem fazer greve, invadir hospitais, furar pneu das ambulâncias e trancar as portas; E se um dia policiais em greve ocuparem os presídios e ameaçarem soltar os presos? Não obstante, teríamos ainda a possibilidade de Soldados do exército em greve, colocarem tanques para obstruir vias. Pergunto: Onde a sociedade vai parar? É esse o precedente que a sociedade deseja abrir com os bombeiros?
Para que não corramos esse risco há uma legislação militar que rege as FFA, Bombeiros e a PM. Independente de qualquer pleito salarial, ela tem de ser respeitada. No momento em que a sociedade permitir que essa lei seja ignorada, estará pondo em risco sua própria ordem.