terça-feira, 1 de março de 2011

Lixo e buracos turísticos

         E não é que o macaco voltou ao nosso Recife para dar uma voltinha turística! Ele precisa tentar mais uma vez entender nossos gestores. Saiu do aeroporto, passou pela praia da Boa Viagem e Pina e foi até Olinda patrimonial do mundo.
            Estarrecido, chorou. Coitado do meu Recife! Pobre da nossa Olinda! Tudo fedendo, lixo espalhado pelas ruas esburacadas e também por sobre as calçadas sem serem ao menos calçadas. Duas cidades lindas, porém sem donos ou provedores – abandonadas. É lamentável como chegamos a este ponto. Depois de se fazer um majestoso aeroporto com linhagem de primeiro mundo, de divulgarmos nossos atrativos eventos e recantos históricos pra turista ver, caímos em algum buraco a cada cinqüenta metros de rua, destroçando as molas dos veículos, avariando o patrimônio do contribuinte, provocando acidentes, muitas vezes fatais, levando-nos a ruborizarmos perante nossos visitantes, os macacos inteligentes e ao arrependimento de elegermos prefeitos distraidamente incompetentes.
            Os viadutos têm crateras de fazer inveja a lua, deixando os motoristas à mercê de possíveis vôos mortais – vide os viadutos da Caxangá, Cidade Universitária, Dois Irmãos (para se ir ao zoológico temos que fazer ziguezagues) e os da Ceasa. A tradicional Av. Conde da Boa Vista está na UTI da pena, inventada por “urbanistas diplomados”. A Avenida Recife é de matar – se estaciona carros em fila dupla debaixo das placas indicando proibição, além das faixas amarelas pintadas no meio-fio. Cadê a fiscalização da CTTU (cujos guardas só sabem multar escondidos nas moitas), Urb, Emlurb, o escambau? Os bairros, outrora residenciais, tranquilos para as famílias residirem como Poço da Panela, Aflitos, Graças, Casa Forte e outros, se encheram de firmas comerciais, madeireiras, oficinas mecânicas e de lanternagem e igrejas universais, cabeleireiros e butiques e lojinhas de miudezas, onde param carros e caminhões dos dois lados da rua, em frente a portões de entrada de veículos das casas de moradias. Vergonhoso. Até a “roseta” de Cícero, no Marco Zero do Recife Antigo, está com rachaduras de quebrar até os saltos baixos das mulheres e de torcer tornozelos dos homens que por lá passeiam para apreciar as “pombas” de Brennand, já todas grafitadas por vândalos, depreciando a obra de Chico. As avenidas Norte e Sul deveriam virar Leste e Oeste. A Rua Imperial é imperativo de brincadeira. A Abdias de Carvalho nem se fala e a Cruz Cabugá, cruz credo! Isso sem levarmos em conta as tantas ruas exclusivamente residenciais descalçadas e constando na prefeitura como asfaltadas. E ninguém faz nada. Onde estão as autoridades judiciais, mormente o Ministério Público para processar os governantes responsáveis por ludibriarem o povo? Assim, como se promover o turismo da nossa cidade? O gringo sai do avião e dá logo de cara com a Mascarenhas de Morais (toda inundada e intransitável quando chove por quinze minutos, tal a Domingos Ferreira e tantíssimas outras) – a conhecidíssima Imbiribeira – ou a acanhada Barão de Souza Leão. Só dá vontade de voltar para o aeroporto e seguir em frente. Todas as saídas da cidade estão terríveis, num horripilante visual. Que pena, prefeito, que sua primeira experiência administrativa venha sendo um desastre, marcada, sobretudo pela inamobilidade do trânsito – um caos. Por enquanto a única referência de um buraco gostoso no Recife ainda é a boa lembrança do “Buraco de Otília”. Aqui já foi a cidade mais bem iluminada do Brasil (nos tempos de Augusto Lucena) – hoje só restam lugares escuros e sombrios para gáudio dos assaltantes de cada esquina. Adeus João da Costa!
            Aí o macaco chegou a “Marim dos Caetés”. Ah, Olinda! Tu que já fostes uma linda situação para uma cidade, suas igrejas de cantos de quatro ou mais cantos, de ladeiras e Varadouro e becos românticos, de farol e coqueiros abanando com suas folhas seu mar doce, limpo e térmico, cantada por poetas e seresteiros, que mal fizestes? A sujeira mancha tua fama. Um Patrimônio da Humanidade entregue a baratas e camundongos. Mais buracos e lixo em tuas entradas, vindas de todas as indicações bussolianas. Peixinhos, cheio de peixinhos e mosquitos da dengue em suas poças de águas turvas e contaminadas... Adeus Renildo Calheiros!
            Buracos negros e fedentina que atemorizam nossa sociedade. Entretanto, outra monstruosa cavidade nos ataca: o vazio de nossos governantes.

         Rivaldo Paiva é escritor – E-mail: paiva.rivaldo@hotmail.com  

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