sábado, 5 de fevereiro de 2011

Estatísticas de primeiro mundo

Ahhhhhhhhhh.....Se aqui em São Paulo, as estatísticas de criminalidade fossem trabalhadas juntamente com os órgãos de Saúde Pública, rsrsrsrsrsrs......como é que os 'estatísticos' de plantão na SSP
consegueriam passar números tão 'cor de rosa' para a sociedade????
Tadinho deles!!!!! e o meu estado como esta neste mar cor de rosa!!!!
 
Estatísticas de primeiro mundo
Andrea Domínguez 31/01/2011 - 03:00.
Em muitos países em desenvolvimento não existem sistemas de vigilância epidemiológica de lesões violentas que possam fornecer, de forma confiável e constante, os dados necessários para o planejamento de estratégias de prevenção da violência. O motivo quase sempre é a falta de recursos para financiar a coleta e a sistematização dos dados.

No entanto, vários projetos implementados pelo médico epidemiologista Diego Zavala Zegarra (foto), da Escola de Medicina e Ciências da Saúde de Ponce, em Porto Rico, já provaram que ter informação confiável sobre o tema não é um luxo de países ricos.

Zavala vem trabalhando com sucesso no desenho e na implantação destas ferramentas em vários países da África e da América Latina com programas que se caracterizam justamente por seu baixo costo, fácil implementação e bons resultados.

Com uma experiência de 25 anos de trabalho em prevenção da violência e como integrante de organizações como a Anistia Internacional, Zavala defende uma abordagem da violência como sendo assunto de saúde pública. “As estratégias de saúde pública e de direitos humanos se complementam e são aliados naturais nos esforços para a prevenção e controle da violência”, afirma o médico boliviano, que também é membro da rede de saúde pública da Rede Internacional de Ação contra Armas Pequenas (International Action Network on Small Arms - Iansa).

Entre os projetos realizados pelo especialista, se destacam dois que podem ser replicados em outras regiões do mundo: o sistema de vigilância em salas de emêrgencia de hospitais e o sistema de vigilância de mortalidade em institutos forenses e necrotérios.

Hospitais, fontes de saúde e de informação

O sistema de vigilância nas salas de emergência foi adotado pela Organização Panamericana da Saúde na Nigéria, Uganda, Zâmbia, Quênia, República Democrática do Congo e posteriormente implementado na Bolívia.

De acordo com Zavala, o projeto na África surgiu pela necessidade de demonstrar a possibilidade de se implementar um sistema de vigilância de lesões - incluindo lesões por violência - em países com poucos recursos econômicos e onde os dados sobre o contexto em que ocorre a violência são inexistentes ou insuficientes. 

Desde o início, se planejou fazer a avaliação antes, durante e depois de terminado o projeto, que durou seis meses. O primeiro passo foi a realização de uma oficina de capacitação em 2006 e o projeto começou em janeiro de 2007. Cada um dos países africanos selecionou o principal hospital de uma cidade que atendia a pacientes que chegavam no setor de emergência por diferentes tipos de lesões. "Ao fim de seis meses se coleta, tínhamos mais de seis mil casos com informações detalhadas”, comemora Zavala.

Cada paciente que ingressava nos hospitais não só era registrado no controle de admissões, mas os dados iam para uma base de dados do projeto. Mensalmente, os dados compilados eram enviados por Internet para o outro lado do oceano, para a Escola de Medicina e Ciências da Saúde de Ponce, onde Zavala os avaliava. “Eu me encarregava de analizar os dados e fazer um relatório para cada instituição sobre a qualidade dos mesmos. Depois lhes enviava uma lista de casos para edição ou correção”, explica o epidemiologista.

Segundo o pesquisador, a lição mais importante deste processo foi a de que implementar um sistema de vigilância epidemiológica em um hospital não significa um custo substancial para o hospital já que o sistema de vigilância pode ser adaptado com grande facilidade ao processo de documentação do paciente.

Isso não significa que o projeto não tenha tido tropeços. Mais do que falta de recursos, as dificuldades tiveram a ver com decisões administrativas. “Uma vez que se forneceu capacitação e os recursos materiais necessários, o processo de compilação funcionou satisfatoriamente. A manutenção do sistema de vigilância epidemiológica não prosperou devido à falta de uma decisão administrativa local. O projeto durou apenas seis meses e, apesar de ter apresentado informes detalhados sobre o produto deste sistema às autoridades administrativas do hospital, não foi suficiente para obter o compromisso das mesmas para apoiar esta iniciativa”, lamenta o médico.

Dependendo dos recursos econômicos e humanos com que se conta, o projeto pode ser mais sofisticado (por exemplo, incluindo a capacitação do pessoal local para análise dos dados ao invés de enviá-los para Porto Rico), ou mais simples, como foi implementado na África, oferecendo informações importantes com as quais nunca antes se havia contado.

Além do sistema implantado nos hospitais, Zavala está trabalhando no sistema de vigilância de mortalidade através de instituições forenses ou necrotérios. Esta é uma nova iniciativa da Organização Mundial da Saúde com interesse especial na África. “

Em setembro, aproveitando uma conferência internacional sobre prevenção de lesões em Londres, conversei com o pessoal da OMS e colegas africanos para iniciar um projeto-piloto na África semelhante ao dos hospitais, mas, desta vez, nos institutos forenses. A ideia é implementá-lo este ano em 10 países africanos”, adianta.

Puerto-Rico-TOPO_0.jpgEntre a África e a América Latina

Este fluxo de ferramentas, conhecimentos e propostas que começou com Zavala em Porto Rico e viajou até a África, agora volta enriquecido para a América Latina. “Todas estas iniciativas podem ser implementadas na América Latina. Estes sistemas de vigilância já existem em alguns países da nossa região. Um bom exemplo é o estabelecido en Cali, na Colômbia", conta.

Segundo Zavala, existe um sistema similar que foi implementamo na cidade de Tarija, na Bolívia recentemente e é possível fazê-lo em muitas outras cidades e países da região. O especialista afirma, porém, que para isso, é necessária vontade política das autoridades de saúde pública dos países.

O projeto de vigilância epidemiológica para lesões e violência em Tarija começou a funcionar em novembro de 2009 e continua ativo. Seu objetivo é documentar sistematicamente as lesões causadas por violência e por outros motivos, que são relatadas na emergência do principal hospital de Tarija (Hospital San Juan de Dios) e que recebe 90% dos incidentes de lesões que requeremn atenção médica urgente. 

“O sistema de vigilância em Tarija pode ajudar a definir o contexto em que ocorre a violência interpessoal na área e isto facilitará o desenvolvimento de estratégias baseadas em evidência para a prevenção e controle da violência nesta cidade”, afirma Zavala.

Porto Rico, demanda imediata

Outro país latino-americano que se beneficiaria deste tipo de medição é justamente Porto Rico. O aumento desmedido da violência causada por armas de fogo durante os últimos cinco anos é uma das maiores preocupações das autoridades do país. Atualmente, a taxa de mortalidade de homens entre 20 e 24 anos é de assustadores 134 por cada 100 mil habitantes, segundo um levantamento feito por Zavala e outros colegas da EMCS em Ponce.

O estudo, intitulado “Distribuição geográfica do risco de morte por homicídio em Porto Rico, 2000-2007”, informa que houve um aumento grande da violência nos últimos anos no país. A pesquisa, realizada graças a um acordo interinstitucional entre o Instituto de Ciências Forenses e a Escola de Medicina e Ciências da Saúde de Ponce, afirma que a taxa geral de homicídios por cada 100 mil habitantes é de 19,8, enquanto o total de homicídios de homens por cada 100 mil habitantes é de 38,5 (sendo a maior parte causados por arma de fogo).

A metodologia deste trabalho se baseou na integração dos dados oferecidos pelo Instituto de Ciências Forenses, mas não se dispôs de dados mais específicos, como a localização geográfica exata dos incidentes ou das análises balísticas para determinar o calibre da arma.

Para consolidar este tipo de informação, Zavala acredita que é importante implementar em Porto Rico os sistemas implantados com sucesso na África e na Bolivia e espera iniciar esse trabalho com um dos principais hospitais da cidade de Ponce nos primeros meses deste ano. Zavala ilustra o drama ao citar o testemunho de uma mãe portorriquenha que declarou a um jornal local: ‘eu mesma dei a arma para o meu filho porque prefiro visitá-lo na prisão do que no cemitério’.

Para Zavala, é vital que todos os governos da região assumam um papel mais ativo diante da violência como problema de saúde pública. “É fundamental que os estados-membros das Nações Unidas se certifiquem de que seus respectivos planos de ação nacional para as armas pequenas e leves se desenvolvam em harmonia com um Plano Nacional de Prevenção da Violência. As estratégias de saúde pública e de direitos humanos se complementam e são aliadas naturais nos esforços para a prevenção e controle da violência”, conclui.

Foto da capa: Diego Zavala

Foto interior: Marcia Farias

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