Por Cecília Olliveira
A quarta edição do Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais 2009/2010 localizou 1.820 pontos como vulneráveis a exploração sexual de crianças e adolescentes nos 66 mil quilômetros de rodovias federais. Ao contrário das edições anteriores, os locais identificados pelos agentes da PRF não serão divulgados, para impedir que ocorra a migração dos criminosos e preservar futuras ações repressivas. A pesquisa foi realizada por meio de uma parceria da Polícia Rodoviária Federal com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência, a Organização Internacional do Trabalho, e a Childhood Brasil.
Desse total, 67,5% ficam em trechos urbanos e 45,9%, nos principais eixos rodoviários do país, onde, de acordo com a PRF, o volume de veículos em circulação e a facilidade de interação entre vítimas e agressores prejudica o trabalho de enfrentamento.
Em 2005 o mapeamento identificou 1.222 pontos de risco. Em 2007, o numero de pontos vulneráveis a exploração passou para 1.819 pontos, número que aumentou apenas um ponto de acordo com o levantamento de 2009/2010.
“O aumento da quantidade de pontos a cada edição não indica, necessariamente, que o problema esteja aumentando. Na verdade, ao longo dos anos, a PRF adquiriu conhecimento e experiência, e hoje tornou-se capaz de observar muito mais detalhes e fatores de risco nos locais visitados”, explica o inspetor Moisés Dionísio, chefe da Divisão de Combate ao Crime da Polícia Rodoviária Federal.
O Mapeamento identificou ainda que existe relação direta entre consumo de drogas – lícitas e ilícitas, prostituição, e presença de caminhoneiros com a ocorrência de pontos vulneráveis à exploração e que quase sempre a exploração sexual de crianças e adolescentes está associada a outras práticas criminosas, como furto, exploração da prostituição, tráfico de seres humanos, venda e consumo de drogas.
Exploração sexual x dependência química
O enfrentamento da exploração sexual comercial também deve dar atenção ao abuso de drogas por crianças e adolescentes. Em estudo realizado pela Save The Children Colômbia, 50% das vítimas de exploração entrevistadas afirmaram a existência de casos de alcoolismo em suas famílias e 27% relataram problemas com abuso de drogas em casa. Uma situação parecida pode ser observada em outros continentes, como explica a oficial regional para as Américas da ECPAT Internacional Maricruz Tabbia: “um estudo conduzido na Turquia pela ECPAT Internacional mostrou que 30% das crianças exploradas sexualmente tinham o pai ou mãe com problemas de abuso de drogas”.
De acordo Maricruz Tabbia, é possível perceber que algumas redes de exploração sexual empregam substâncias que causam dependência como uma estratégia para deixar meninos e meninas ainda mais vulneráveis. “São dadas às crianças para enfraquecer sua consciência. É uma ferramenta dos exploradores, uma vez que elas ficam mais fáceis de controlar quando as drogas se tornam um hábito”, afirma.
No Brasil o panorama não é diferente. Pesquisa realizada em 2007 em Fortaleza mostrou que das 328 crianças e adolescentes entrevistadas, 73,2% usam algum tipo de droga. Deste total 19,9% afirma fazer uso contínuo do crack. Em Recife, esse número pode ser ainda maior. Um estudo realizado em 2008 pela ONG Centro de Prevenção às Dependências, sob encomenda do Ministério do Turismo, constatou que 93% dos meninos e meninas nessa situação já podem ter experimentado a substância.
Números preocupantes
De 2005 a 2009, a Polícia Rodoviária Federal encaminhou aos conselhos tutelares 2.036 meninos e meninas que se encontravam em situação de risco nas estradas brasileiras. No mesmo período, 951 pessoas foram presas em flagrante por crimes praticados contra crianças e adolescentes.
"Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina."
Paulo Freire
Postado por Tania Alencar
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