A existência de candidatos ligados a facções criminosas sugere uma nova etapa da estruturação do crime organizado no Brasil, diz o sociólogo Claudio Beato.
Coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, ele teme a "contaminação das instituições políticas" e diz que o remédio está na própria democracia.
Folha - A polícia suspeita que o candidato a deputado Ney Santos (PSC) tenha ligações com o PCC. A penetração na política é uma meta do crime organizado?
Claudio Beato -
Estamos assistindo a uma evolução na organização da criminalidade no Brasil. Isso não ocorre só com o PCC. O fenômeno das milícias, no Rio, é outro exemplo de que o crime organizado está buscando representação política. A busca por penetração na Câmara mostra que passamos a uma nova etapa da estruturação do crime.
Isso é preocupante?
Estágios anteriores de estruturação das organizações criminosas levam a problemas para as comunidades. É nessa nova etapa que começa a haver uma contaminação mais acentuada das instituições públicas. Isso é que é muito preocupante. Se olharmos para outros países, sempre vamos achar exemplos de algum momento em que houve essa mistura da política com a criminalidade.
Estamos longe de chegar a uma situação como a que houve na Colômbia cerca de 15 anos atrás. Mas precisamos prestar muita atenção para esse novo fenômeno.
Quando o crime organizado chega a esse estágio de estruturação, que tipo de resposta o Estado precisa dar?
O principal antídoto é o funcionamento das instituições democráticas, tal como está ocorrendo no momento. É preciso identificar claramente o fenômeno, ver quem está envolvido, apontar os elos. Enfim, manter a a polícia investigando e a Justiça funcionando. De uma forma geral, as instituições têm reagido bem.
Fonte: Folha de S. Paulo
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