terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Abúlicos democratas


         Por passarem tantos e tantíssimos anos sem vontade de cumprir o conceito de democracia, as elites brasileiras, sejam políticas, empresariais – e, pasmem, contagiando até as jurídicas, sociológicas e policiais – obviamente controladoras da economia do País, já sofrem de abulia crônica ou disbulia: uma alteração patológica que se caracteriza por diminuição ou supressão da vontade. Evidente que a vontade dessas elites empresariais é sempre de se enriquecerem mais à brisa das cartas jogadas com o poder político – as velhas, ainda ativas, classes dominantes – sem dar a mínima importância ao nosso “belo” quadro social.

            Adoram a palavra democracia e as usa ao bel interesse de se manterem distantes do seu real significado prático para o povo que rege uma sociedade livre e partidária. E não me venham com jargões de que somos ainda terceiro-mundistas ou um país em desenvolvimento, emergente, oitava (sei lá) economia do mundo et cetera e tal! E o custo da globalização – com palavras de ordem bonitas como inclusão social – é alto e doloroso, bancando a renda per capita, pibs, bolsa de valores, royaltes, e por aí vai.

            O que é democracia? Governo do povo, para o povo, pelo povo, soberania popular, democratismo. Uma doutrina ou regime político baseado na distribuição equitativa do poder e pelo controle da autoridade. Será que exercemos mesmo esta democracia? Que nada! Quando um país pode ser democrata se não aplica a punibilidade, o respeito à sua Constituição – guarnecendo os direitos dos cidadãos e suas famílias, a educação, a saúde, a moradia, a segurança? Tudo isso é atribuição dos governos. Será que algum dia de um passado republicano até hoje tivemos um governo legítimo e que cumpriu a nossa Carta Magna em todos os seus artigos?

            E a leis? Quem e quando se deve cumpri-las? Quem dessas elites é preso? Quem cumpre sentença proferida pela justiça (ainda que lerda) em toda sua plenitude? Quem paga os impostos com seriedade? Quem tem Caixa Dois? Quem é mensaleiro? Quem é safado?... Coitada da nossa democracia. Quem é preso hoje dessas elites – convém registrar, são poucos, mas bem mais do que há 10 anos – ainda são beneficiados pelo Código Penal de 1924. É mole? Pode minha gente? Além dos meliantes e autores de crimes “comuns” (passionais, latrocínios, seqüestros, estupros, de maldades extremas), essas gangues, entre outras, de “anões da alta congressual”, narizes arrebitados da política de rapinagem e uma infinidades de comparsas e clones da vida do Brasil são condenadas a 20, 30 anos de reclusão e são libertadas logo, cumprindo 3 ou 6 anos solamente. Em parte apenas, pois tem os outros, que conseguem se safar dos processos por apadrinhamentos dos grandes de Brasília e fogem sempre para os paraísos fiscais distantes e litorâneos. E lá no Exterior vão gastar com suas famílias e asseclas o que surrupiaram da Nação. Esta é a realidade.

            E agora, os “novos democratas”, ex-processados no passado por violência, assaltos, mortes e sequestros, dizendo-se defensores de uma democracia idealista, porém criminosa, querem ditar normas liberais (?), editando decretos, sem lembrar a Declaração de 1948. Criaram um recente PACDH-Direitos Humanos, sob a égide de um decreto-lei nº 7.037, de 21.12.09, famigerando uma democracia que eles mesmo defendiam. É hilariante.

            A violência é crucial. Se os estudantes em sociologia clamam pelo bem estar da sociedade, a cultura, a alimentação, outras coisas mais, eu também concordo. Vamos mudar nosso País. Que tal uma reforma de base (que coisa antiga boa – diziam de comunistas, hein?). Senhoras autoridades constituídas: tirem os menores das ruas, façam mais e mais escolas em dois turnos, alimente-os (Cadê o Fome Zero?), concite-os à leitura – editem livros educativos – desenvolvam o hábito de conhecerem nossa história, os incentivem a praticar esportes sadios, ensine-os pelo menos a letra do nosso Hino, abram espaços para o trabalho honesto e reconfortador, mostrem-nos o amor, a beleza da natureza e, acima de tudo, o respeito às leis.

            Assim, devagarzinho, nos livraremos de uma pseudodemocracia doente, exatamente abúlica, e dessas elites egoístas, agora “socialistas” e mais aproveitadoras, que só trazem o mal – doentes da vontade. Por isso frequentemente surpreendidas por crises de torpor, de inércia, de mandriice enfim, que só podem ser vencidas à custa de energias supremas, ou por ordem imperiosa de verdadeiros democratas.



       Rivaldo Paiva é escritor – E-mail: paiva.rivaldo@hotmail.com


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