segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Caras e prosas


Rivaldo Paiva

         Os “caras” viraram moda. Pobres caras. Ah, se soubessem o que sabemos! Não falavam besteiras nem diziam que não sabiam e não viam nada. A prosa, então, hoje, virou moda também, mesmo das antigas, quando em festas de mocidade os brinquedos armados nas ruas e praças levavam crianças e adultos a divagarem sobre rodas-gigantes, cavalinhos de carrossel e, por fim, a acreditarem nos tira-prosas. Estes aí reviravam a cabeça da gente, subindo e descendo até nos dar vertigens. Namoricos e conversa fiada, nem pensar. Não dava tempo. Era muita emoção no vai-e-vem do barco sacudindo no ar. Portanto, sem ser tira-prosa, a prosa virou moda para esses “caras”, que desmunheca para a lorota por tudo que é grota patriótica em glosa cautelosa, testemunhando o que mais está em voga por esse mundo afora, de galhofas.
            A onda agora são os “caras” e suas “belas prosas” de “bocas”. E é de Brasília que se autocondenam os maiorais da arrogância, do poder escrachado. Acham que entendem de tudo. Quem pensa que sabe de alguma coisa do plano do cientificismo político, estratégico-militar, religioso, filosófico, antropológico, corruptológico, mentirológico, está aparecendo mais do que se estivesse com um jerimum pendurado no pescoço e perucas tresloucadas.
            Nas telinhas televisivas, os caras “doutores PHDs” e “professores” políticos eméritos dos maiores e menores partidos, deitam e rolam besteirol e prolixidades sobre como comandar o voto popular, enganando um rol de leitores com promessas de “sal no petróleo”, aumento de bolsas-famílias, celular, geladeira, TVs, motos, o escambau. Tudo isso para garantir uma ex-guerrilheira na chefia da Nação nas próximas eleições. Só que ela está longe do nosso presidente Lula – esse, sim, é o cara (bem apregoou Obama, o cara mais poderoso do planeta), o mais inteligente e sabido, de sagacidade simples e popular que já passou pelo Planalto, desde JK. O melhor presidente do Brasil falando para o mundo.
            Entretanto, por aí, nas barafundas da Europa, Oriente, dando a volta pelos caminhos das Índias e retornando para as Américas, não faltam caras – de línguas soltas, salientes don-juans, ditadores patusqueiros e perueiros de toda ordem e progresso a nos deliciar com suas prosas, as mais diversas e hilariantes. O que esse mundão vai ser, gente, por essas bandas neste 2010 que se inicia, repleto de esperança, como sempre acontece a cada ano-novo?
            Como a prosa que eu gosto é outra bem diferente da lorota, mesmo que seja uma lorota boa, mas uma prosa que faz verso e música, que ama, protesta, e o reverso nos faz ainda mais felizes – prefiro deixar este assunto de ambição, guerra e desamor para o além-mar, já bastante cansativo e sofrido, de dar enfado, de lado.
            Então, esperemos um pouco mais do nosso Brasil. Os políticos já brincaram demais de poder. Está na hora de o povo fazer alvoroço, de entrar nessa brincadeira. De “marré-marré”, mesmo. De “chicote queimado” e do “coelho sai... não sai”, dos nossos ancestrais. De “garrafão”, de “pega”, nunca de “se esconder”. Aí sim, o povão volta a esquecer das agruras dos mensalões – feito menino de calça furada, dos pinhéns de Guimarães Rosa – em calça furada entra formigas.
             O melhor negócio é tirar prosas dos “caras”. E como o velho e saudoso Lupicínio Rodrigues, para seus “moços”, muito cuidado com esses caras!... Pobres caras. Ah, moços! Se soubessem o que eu sei, certamente não vão passar o que eu já passei. Por meus olhos, por meus sonhos, por meu sangue, tudo enfim... É que eu peço a esses moços do nosso País, que acreditem em mim.
            Que jamais sejamos esses caras e vamos prosear um grande ano.
           Rivaldo Paiva é escritor – E-mail: paiva.rivaldo@hotmail.com

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